Brusone

  Pyricularia grisea é um fungo altamente saprofítico, podendo sobreviver em uma gama enorme de hospedeiros. Embora a existência de outros hospedeiros, a principal fonte de inóculo é originada, provavelmente, de restos culturais de trigo que haviam sido infectados no ano anterior.

  Inicialmente a brusone do trigo era considerada uma doença de espiga, em função da lesão escura provocada no ráquis, com consequente branqueamento da espiga. Os sintomas, no entanto, são detectados também nas folhas, nas bainhas, nas sementes e em plântulas, causando a morte e ou a má germinação. As lesões nas folhas são elípticas, levemente arredondadas, com bordos cloróticos, com abundante frutificação de coloração acinzentada, em geral, na face ventral da folha. Nas folhas adultas, as lesões são elípticas, com o centro variando de branco a castanho claro, com margens levemente escurecidas e as extremidades com uma coloração castanho avermelhada. Nas bainhas, os sintomas são semelhantes. Nas glumas, as lesões são elípticas, de coloração castanho claras a acinzentadas.

  É uma doença cosmopolita e bastante destrutiva. As perdas relatadas no Brasil, especialmente para as condições de cultivo no Paraná e no Mato Grosso do Sul, e, mais recentemente no Cerrado dependem da suscetibilidade da cultivar e das condições climáticas para o desenvolvimento do patógeno. Em média de 5 anos de avaliações no Mato Grosso do Sul, determinaram perdas médias de 57,3 % (infecções precoçes) e 34 % (infecções tardias), respectivamente.

  A fonte de inóculo primária é originada de plantas de trigo voluntários que são encontrados ao longo das rodovias, nos cruzamentos de rodovias e próximos a silos e armazéns. Além do trigo, o fungo sobrevive em uma gama enorme de hospedeiro, principalmente de gramíneas como a milhã, o papuã etc….

  Os primeiros sintomas da doença são observados em algumas espigas e, logo, generalizado na lavoura. Sussessivas gerações de conídios de Pyricularia grisea são transportados pelo vento. A duração do processo de penetração varia com a temperatura podendo ser de 6, 8 e 12 horas, com temperaturas de 24 °C, 28 °C e 32 °C, respectivamente. Os conídios necessitam de moderado período de molhamento foliar (água livre) para germinarem e penetrarem na folha de trigo. Períodos longos com presença de orvalho (6 a 10 h) por 2 a 3 dias consecutivos favorecem a doença.

  Os conídios de Pyricularia grisea, podem ser transportados a longas distâncias pelas correntes de vento, especialmente em rajadas fortes que provocam o atrito entre as plantas, liberando os esporos. A coloração subhialina da parede celular oferece pouca proteção contra a radiação ultra violeta e a dissecação e, por conseguinte, a viabilidade dos conídios é limitada a poucos dias.

  Inicialmente a distribuição da brusone do trigo é restrita a algumas plantas isoladas, porém, com a disseminação rápida da doença para as plantas vizinhas a distribuição no campo passa a ser generalizada. Pelo tipo de infecção generalizada que ocorre nas espigas, é provável que a maioria dos esporos venha de fontes externas, embora já tenha sido relatada sua transmissão via semente. A doença começa nas folhas de baixo progredindo para as folhas superiores a medida que a doença progride. Plantas severamente atacadas tem a área fotossinteticamente ativa reduzida e senescem precocemente. No caso de infecções severas, os componentes de rendimento afetados são o número de espigas, o número de grãos por espiga e o peso dos grãos.



José Maurício Cunha Fernandes
Pesquisador – Embrapa Trigo – Passo Fundo
mauricio@cnpt.embrapa.br


Willingthon Pavan
Professor/Pesquisador – Universidade de Passo Fundo
pavan@upf.br