Giberela

A giberela ou fusariose da espiga causada por Gibberela zeae (Schw.) é, atualmente, uma das mais importantes doenças da cultura do trigo no mundo. Freqüentes epidemias têm sido observadas nos últimos anos em diversas regiões, promovendo danos na produtividade e na qualidade dos grãos. No Brasil, o patossistema tem sido estudado há mais de três décadas e estudos recentes indicam que a doença, que se apresentava na forma de epidemias leves e esporádicas, alcançou o status de principal doença nas regiões tritícolas com maior freqüência, principalmente no Sul do Brasil, causando impactos econômicos.

A qualidade do trigo é afetada, principalmente, com o acúmulo de micotoxinas nos grãos infetados com Fusarium spp., as quais podem apresentar efeitos tóxicos aos seres humanos e animais.

Há um consenso gerado ao redor do florescimento como principal sítio de infecção e está relacionado ao fato de que é no momento da extrusão das anteras que tem início o processo de infecção. Neste momento, a infecção prejudica diretamente a produtividade da lavoura, pois os grãos, quando produzidos, apresentam-se com tamanho reduzido, danificados e chochos. Infecções que eventualmente ocorrem tardiamente durante a fase de enchimento de grãos tem menor ou nenhum impacto na produtividade, pois estes grãos são mais difíceis de serem eliminados dos lotes, levando a contribuir para os níveis finais de micotoxinas. Se, de fato, a janela de suscetibilidade, especialmente para a contaminação, se estende até estágios de desenvolvimento de grãos, será preciso então considerar estratégias integradas de controle para proteger as espigas do trigo por semanas, ao invés de apenas alguns dias após o florescimento.

A giberela é descrita como uma doença de clima quente e úmido, de modo que a umidade e a temperatura são os principais fatores que influenciam a ocorrência e a severidade de epidemias de giberela, sendo que a temperatura ótima para infecção situa-se entre 20 e 30 °C.

 

Importante: A data a ser informada é data do início do espigamento (emergência da primeira espiga), portanto, a data não pode ser superior data de hoje.

Dentre as medidas atualmente empregadas para o controle da giberela, tem-se constatado que nenhuma tática isolada de manejo é eficiente para minimizar as perdas, pois embora exista alguma resistência genética esta é insuficiente para evitar níveis epidêmicos. Além disso, a eficiência de fungicidas é fortemente dependente do momento e da qualidade da aplicação. Um manejo da doença que busque a maior eficiência deve considerar o uso de estratégias múltiplas e integradas.

Um sistema racional para a previsão da epidemia de giberela tem sido vislumbrado por muitos como uma ferramenta de utilidade para agricultores e agentes de extensão no sentido de apoiar a tomada de decisão no controle da doença com fungicidas ou mesmo identificar a contaminação dos lotes com micotoxinas. A natureza esporádica da doença, fortemente associada a eventos climáticos, torna o patossistema possível de ser modelado matematicamente.

GibSim

O modelo Gibsim foi desenvolvido na Embrapa Trigo em colaboração com a Universidade Federal de Pelotas e a Universidade de Passo Fundo. O Gibsim pode ser conectado a um modelo de simulação do crescimento e desenvolvimento do trigo ou rodar com a data de início de espigamento. A proporção diária de tecido de espiga infectado é função do produto da proporção de anteras presentes, da taxa de infecção calculada para cada período de infecção.A freqüência de infecção varia de acordo com a densidade da nuvem de esporos. As taxas nos sub-modelos são influenciadas pela temperatura média diária do ar, radiação solar diária, umidade relativa média diária e dias consecutivos de precipitação. O índice final de infecções de giberela é obtido com a soma dos índices parciais, expresso em uma categoria de risco.

O modelo Gibsim apresenta-se como uma ferramenta útil para o manejo racional da doença. O acompanhamento diário do índice acumulado das infecções, antes da expressão dos sintomas, pode balizar a tomada de decisão de aplicação de fungicidas em função do risco de dano econômico. Além disso, previsões climáticas de até cinco dias, mais acuradas do que aquelas de médio prazo podem indicar o controle antes de um evento de infecção, de forma que o fungicida possa agir de forma preventiva. De outra forma, após eventos de infecção, fungicidas aplicados previamente ao aparecimento dos sintomas, poderiam melhorar a eficiência do controle. Uma outra utilidade do modelo seria na confecção de mapas regionais de risco de giberela construídos a partir da interpolação do índice gerado por uma rede de estações climáticas, partindo-se de uma data de espigamento ou florescimento e acompanhando-se a evolução diária das infecções. Com isso, poder-se-ia prever os prováveis níveis de contaminação de lotes de trigo provenientes de determinadas regiões.

Esclarecimento sobre micotoxinas em trigo

Fonte: Notícias Agrícolas // João Batista Olivi e Fernanda Cruz



José Maurício Cunha Fernandes
Pesquisador – Embrapa Trigo – Passo Fundo
mauricio@cnpt.embrapa.br


Willingthon Pavan
Professor/Pesquisador – Universidade de Passo Fundo
pavan@upf.br